Mateiros realiza programação cultural e valoriza Patrimônio jalapoeiro

por Jornal Folha do Jalapao — 04/12/2025 às 09:34 — em Cidades, Destaques

Passado e presente se encontram no Jalapão por meio de oficinas, música e teatro, resgatando tradições e fortalecendo a identidade local

Mateiros viveu uma semana intensa e recheada de oficinas culturais, impulsionadas pelo projeto “Meu quilombo é maior que o Mundo: práticas decoloniais nos territórios do Jalapão”. A iniciativa, realizada por meio da chamada “Educação para o Bem Viver: apoiando as comunidades quilombolas por uma educação antirracista”, do Fundo Casa Socioambiental, promoveu um conjunto de ações voltadas ao fortalecimento da identidade quilombola, à valorização da memória ancestral e à vivência de práticas culturais que expressam e preservam o patrimônio jalapoeiro.

O projeto foi concluído na tarde de 3 de novembro, no Museu da Cultura Popular Jalapoeira, com a apresentação do grupo As Fiandeiras do Jalapão — Valdete Castro, Noemia Gonçalves Silva, Laudeci Ribeiro, Almeniza Pereira Alves e a jovem Lorena Monteiro. Esse coletivo de mulheres transforma a memória em arte: por meio do teatro, elas resgatam lembranças de infância e juventude das jalapoeiras, ensinam o processo tradicional de beneficiamento manual do algodão e compartilham vivências que revelam valores transmitidos pelas gerações quilombolas. A atividade encerrou a programação reafirmando a força das narrativas femininas e a importância da preservação dos saberes ancestrais no território.

Em um momento marcado pela força feminina e pelo diálogo comunitário, as associadas da ACAPPM (Associação Comunitária dos Artesãos e Pequenos Produtores de Mateiros) abriram uma roda de conversa para lançar a Rede de Mulheres Extrativistas — um coletivo criado para fortalecer a governança feminina nos territórios e ampliar a representatividade das jalapoeiras na garantia de direitos e na proteção das mulheres. O encontro reuniu debates essenciais e definiu encaminhamentos construídos de forma participativa e democrática.

À tarde, o evento recebeu as oficinas de Educação Patrimonial, entre elas uma vivência prática ministrada por Dona Floriza, da comunidade Mata, que ensinou a tradicional arte de fazer esteiras de buriti. Com gestos pacientes, ela convidou os alunos a lembrar — ou descobrir — o processo do trançado realizado com a embira do buriti, revelando a delicadeza e a técnica por trás desse saber ancestral. As oficinas têm como objetivo garantir que esses conhecimentos passem de geração em geração, aproximando mestres da cultura local de crianças e jovens do município e fortalecendo a continuidade das práticas jalapoeiras.

O encerramento do evento foi marcado por um clima de união e alegria, conduzido pelo agricultor e compositor Seu Valdão, que compartilhou histórias antigas e cantou músicas na tradicional viola de buriti, arrancando risos e emocionando o público. Suas poesias, entre o passado e o presente, convidaram a revisitar um Jalapão de outros tempos — anterior à fama turística — quando os jalapoeiros enfrentavam desafios impostos pelo isolamento e pela falta de infraestrutura. Ainda assim, em suas canções fica evidente a saudade daquele período: a simplicidade da vida, segundo ele, tornava cada gesto mais cheio de significado.


Uma semana de cultura e aprendizado

Ao longo da semana, diversas oficinas mobilizaram a comunidade e fortaleceram os saberes tradicionais do território. Entre elas, Costurando a Tradição, Agricultura Familiar, Roça do Toco, Roça de Esgoto e Biblioteca e Brinquedoteca foram realizadas com o objetivo de promover a troca de conhecimentos, incentivar práticas sustentáveis e valorizar técnicas ancestrais ainda presentes no cotidiano jalapoeiro. As atividades reuniram moradores de diferentes idades, que puderam aprender, compartilhar experiências e reconhecer a importância da preservação cultural e produtiva do território.

A primeira-dama Ana Cláudia, que acompanhou a realização das oficinas, destacou a importância do evento para a comunidade e o impacto da iniciativa na preservação da cultura local. “É uma imensa alegria ver de perto a riqueza cultural do nosso Jalapão sendo compartilhada e preservada. Cada oficina, cada atividade, é uma oportunidade de resgatar tradições, transmitir saberes ancestrais e fortalecer a identidade do nosso povo. A gestão municipal tem muito orgulho de apoiar projetos que valorizam nossos mestres e artesãos, que conectam crianças, jovens e toda a comunidade às raízes e histórias jalapoeiras. Esses momentos reforçam não apenas o aprendizado, mas também o respeito e o cuidado com nosso patrimônio cultural, garantindo que essas práticas e memórias sigam vivas para as próximas gerações. Estamos juntos para celebrar, proteger e difundir tudo aquilo que torna o Jalapão único e especial”, afirmou.

Todas as oficinas e atividades da programação cultural foram realizadas no âmbito do projeto “Meu quilombo é maior que o Mundo: práticas decoloniais nos territórios do Jalapão”, por meio da chamada “Educação para o Bem Viver: apoiando as comunidades quilombolas por uma educação antirracista”, do Fundo Casa Socioambiental. Entre os parceiros da iniciativa estiveram a APA Naturatins e a Prefeitura Municipal de Mateiros, que apoiaram a promoção e a valorização das práticas culturais e saberes tradicionais da região.

Museu

O Museu da Cultura Popular Jalapoeira é um museu comunitário localizado no centro de Mateiros. Ele foi fundado em 2025, durante o Festival da Cultura Popular Jalapoeira, com apoio do Ponto de Cultura Varandas do Jalapão, em parceria com a ACAPPM e a APA Naturatins. O objetivo do espaço é oferecer um local de memória para divulgar a identidade e o patrimônio material e imaterial do Jalapão. Os mateirenses sonham em, no próximo ano, implementar uma programação noturna fixa, permitindo que mestres, artistas e agentes culturais divulguem seus trabalhos e gerem renda digna a partir de seus saberes e fazeres.

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