FESTA DA COLHEITA: Projeto Escola no Quilombo repassa saberes culturais da Comunidade Mumbuca

por Wenina — 18/09/2023 às 16:15 — em Cidades, Destaques

Através do Projeto da Escola Estadual Silvério Ribeiro de Matos e da Superintendência Regional da Educação de Palmas, crianças, adolescentes e visitantes aprendem a produzir itens usados pelos quilombolas, como brinquedos de buriti, viola de vereda, dentre outros

Aprender a confeccionar brinquedos de buriti e itens como o tapiti, cofo, artesanato em capim-dourado e até mesmo a violinha de buriti é um dos anseios de muitas crianças. O saber tradicional herdado dos antepassados é propagado através da soma de muitos esforços, e um exemplo é o Projeto Escola no Quilombo, realizado pela Escola Estadual Silvério Ribeiro de Matos, no Quilombo Mumbuca, em Mateiros.

A aluna Izadora Ferreira, 10 anos, é uma das estudantes do povoado que aprendeu a fazer alguns dos brinquedos durante as oficinas ministradas na escola e que fazem parte do componente curricular dos estudantes. “Aprendi também a fazer a boneca de buriti, cavalo, e eu gostei muito porque são brinquedos da época em que não se tinha boneca, carrinho e é importante a gente aprender as coisas dos nossos avós”, disse a estudante.

As oficinas foram ministradas por mestres da comunidade, que além dos saberes técnicos também falaram aos alunos sobre a cultura herdada dos pais e avós, como os mestres Valdir Tavares, Cleudimar Tavares, Doutora, dentre outros voluntários que entendem a importância da permanência da cultura quilombola. Os encontros com os estudantes foram realizados no período que antecede a colheita, dentro da disciplina Cultura Quilombola, buscando celebrar o bem cultural predominante na região do Jalapão, assim como as tradições culturais deixadas por mestres e anciãos da comunidade.

Os itens produzidos pelos alunos foram expostos durante a Festa da Colheita na Casa da Cultura. No local também foram realizadas oficinas e demonstrações aos visitantes que puderam conhecer mais sobre a confecção dos itens da roça. A diretora da Escola Estadual, Sirlene Matos, falou da importância da iniciativa para resgatar e garantir que a cultura não se perca.

“Estamos felizes em estar aqui pela segunda vez dentro da Festa da Colheita com o Projeto Escola no Quilombo, com a exposição de objetos feitos pelos mestres do quilombo juntamente com nossos alunos, e este ano ainda mais felizes por termos um aumento do público visitando a exposição e a presença dos estudantes do ensino médio da Escola Sagrado Coração de Jesus, de São Félix. Foi muito bom tê-los para entender a história e partilhar esses itens usados pelos nossos antepassados, e a gente não pode perder esse legado”, comentou a diretora.

Sirlene reforça que é necessário reconhecer os valores culturais de quem não tem o dom das letras, mas tem saberes tradicionais. “Tudo isso é conhecimento, nós tivemos o privilégio de ir para a escola, universidade, mas esses mestres têm o conhecimento riquíssimo de sobreviver a esse lugar difícil e distante”, complementa.

Saberes

Entre os itens confeccionados estiveram o cofo, uma espécie de cesto feito da palha de buriti para transportar itens em animais, além da tradicional Rabeca de Buriti, a violinha que ganhou o mundo com seu som irreverente e criativo. Dona Diva Gonçalves produziu uma esteira de palha de buriti para os visitantes. A mestre da arte em buriti teve a ajuda da neta, Carla Pereira, para confeccionar o item. “Eu faço isso desde os meus 15 anos e aprendi também a fazer o tapiti, balaio, peneira, e estou sempre disposta a ensinar para os mais jovens e aos meus netos, se eles quiserem aprender”, comentou a artesã.

O tapiti, utilizado para a produção da farinha de mandioca e foi usado pelos mais antigos, antes da prensa, para espremer e secar a massa que vai ser utilizada para a farinha. O item leva um pouco mais de tempo e técnica para ser feito, mas paciência é o que não falta para seu Valdir Barbosa, que ensinou a fabricação. “Nossos pais não tinham a prensa para secar a massa, a gente ainda usa prensando a palha. Do buriti nada se perde, a gente aproveita tudo e estamos sempre preocupados em preservar a espécie”, ressalta.

Os brinquedos de buriti foram ensinados pelo morador Cleudimar Tavares, que além da violinha de vereda, também faz carrinhos, bonecas, carro de boi, e outros itens da palha. “Desde menino a gente faz isso e agora despertamos para ensinar, herdei do meu pai e dos meus avós, a gente tem guardada essa tradição que vai se perdendo se a gente não repassar. Esses eram os nossos brinquedos, e nossos filhos merecem receber também essa tradição”, recorda

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