ACEITAÇÃO E GRATIDÃO: O lema de Denisa Carvalho na luta contra o câncer

por Wenina — 07/01/2023 às 08:06 — em Cidades, Destaques

Especial

-Por Nayla Oliveira

Tendo sempre como marca um sorriso largo e um abraço acolhedor, a moradora de Aparecida do Rio Negro, Denisa Carvalho, esbanja autoestima, alegria e fé, mesmo ao enfrentar o câncer de mama. Nem mesmo o processo doloroso da quimioterapia desanima a educadora e teóloga, que a cada dia se fortalece com a espiritualidade e o apoio da família, amigos e comunidade

“Deus me fez assim, com esse dom de sorrir. A alegria é um dom. Tem gente que não tem motivos para ser triste, e ainda assim é, não consegue dar um sorriso. É uma escolha que você faz, a beleza do sorriso é de dentro, eu acho lindo os sorrisos de todas as formas”. Quem observa as palavras da moradora de Aparecida do Rio Negro, Denisa Carvalho, nem pensa que são frases de alguém que enfrenta um câncer de mama. Apesar de lutar contra a doença, Denisa demonstra sempre seu alto astral e alegria, afirmando que sua intenção é minimizar o sofrimento, e não o aumentar.

Em entrevista à Folha do Jalapão, Denisa por várias vezes repetiu palavras como Gratidão e Aceitação, o lema que adotou nesta trajetória. “Tudo que eu plantei ao longo da vida, as palavras que eu disse, os gestos de carinho, eu estou colhendo agora. Nunca imaginei que teria um milhão de amigos neste momento tão difícil da minha vida. Então, a vida se resume aos cuidados que você tem em seu coração, em plantar e colher, tudo voltado para a aceitação sempre, gratidão e vivendo um dia de cada vez”, disse.

Em uma conversa cheia de momentos emocionantes e aprendizados, lágrimas e sorrisos se misturaram aos relatos de quem se ressignificou com um diagnóstico que poderia ser sinônimo de tristeza e desalento, mas pelo contrário, se transformou em força, determinação, coragem e altivez.

 Trajetória

Quem convive com Denisa em Aparecida do Rio Negro sabe que a alegria sempre foi sua marca, que a oratória sempre foi um dom, e que sempre usou com sabedoria o seu talento com as relações, com o público, e principalmente, com a família. Nas palavras da própria entrevistada, “Denisa é uma teóloga que não exerce a profissão de teóloga, mas que exerce a profissão de Professora efetiva da rede municipal de Palmas. Foi criada rigorosamente nos princípios bíblicos, tem uma religião. Teve princípios cristãos e sempre foi muito cobrada e exigida. Uma pessoa feliz, mas que deixou de realizar muitas coisas porque errou em algumas escolhas e foi cobrada demais em outras”.

 Foi aos 46 anos e com um filho de 17 anos, que Denisa mudou completamente de vida ao receber o diagnóstico do câncer no dia 20 de junho, após a realização de um exame preventivo, ainda em fevereiro, no Hospital de Amor, depois de ser atraída pelo trabalho voluntário que é realizado na instituição, em Palmas. Por sempre ter tido uma ‘saúde de ferro’, ela conta que nunca gostou de ir ao médico, e muito menos realizava exames de prevenção.

“Fui encaminhada para a mastologista após o primeiro exame, fiz uma biópsia e logo começaram a surgir as dúvidas na minha cabeça. A gente nunca pensa que vai ser diagnosticada de um câncer, até mesmo pelo fato da minha saúde ser 100% e por não sentir dor nem incômodo nas minhas mamas. O câncer é silencioso e mortal. Por isso a necessidade da prevenção”.

 Diagnóstico e tratamento

Ao receber o diagnóstico a primeira impressão foi de choque, surpresa e muitas dúvidas. Logo que saiu da sala já com o diagnóstico, o abraço acolhedor de duas mulheres desconhecidas foi como um abraço de Deus. “Foi uma sensação de acolhimento. Ninguém sabia ainda, nem mesmo a minha família, mas eu me senti acolhida. Quando entrei no carro eu enxuguei as lágrimas e disse a mim mesma que não iria ficar com o choro, com a tristeza. O mundo agora seria desconhecido, não sabia por onde começar, mas queria começar feliz”. E assim fez, sorrindo e aceitando ela tem enfrentado cada etapa do tratamento.

Denisa enalteceu o serviço prestado pelo SUS, sempre com agilidade e competência pelos profissionais. “A cirurgia da retirada do quadrante na mama foi no dia 24 de agosto e passei dois meses para a cicatrização. E agora estou no processo de quimioterapia, que de fato é o mais doloroso. São seis sessões a cada 20 dias. 21 dias é o limite do corpo e do psicológico para suportar, e só quem passa pelo processo sabe. Eu sempre vou fazer o procedimento feliz, mas quando a gente volta após três dias vem os efeitos colaterais”, comenta.

A alimentação também se tornou um desafio, já que alimentos produzidos por hormônios, enlatados, que contém glúten, carne vermelha, embutidos e todos produtos industrializados, tiveram que ser retirados da dieta. A alimentação natural é pautada em produtos sem agrotóxicos, sem refrigerantes e sem açúcar. Frutas, suco naturais e muito líquido. “Por ser um câncer reagente a hormônios, tive que tirar da minha vida tudo que tem hormônios e ração. 90% da minha alimentação mudou, e aí entrou a minha mãe na história, a dona Madalena se tornou a minha nutricionista”, conta com ela, sempre com o riso no rosto ao lembrar do cuidado das pessoas, que fazem a diferença no seu dia a dia.

Autoestima

Um dos aspectos que mais mexe com a autoestima da mulher durante a luta contra o câncer é a queda dos cabelos. Para a mulher a perda dos fios está diretamente ligada ao universo da feminilidade. Com Denisa não foi diferente. Ao relatar o processo do efeito durante o tratamento ela não conteve as lágrimas.

Eu nunca pensei que tivesse paixão pelo cabelo. Usar o cabelo curto por opção é uma coisa, mas ver o cabelo cair é outra coisa. Inicialmente cortei, depois cortei mais um pouco, e no 13º dia da quimio, quando acordei e passei a mão, já veio cheia de cabelo. E foi ficando desagradável, então o trauma de ver o cabelo cair é sofrido e doloroso. No outro dia chamei a minha cabeleireira Clesiane para raspar. Ela não queria, mas eu a incentivei. É um momento ímpar e inesquecível, e eu não me sinto mais a mesma sem o cabelo, mesmo que tenha aquela esperança da cura pelo tratamento, mas a queda dos cabelos é traumatizante”.

Mesmo em um processo que poderia ferir a sua autoestima, ela não se lamentou. “Tirei uma foto e postei, porque muita gente tinha curiosidade, e disse: pronto, agora estou despida. Acho interessante usar o turbante porque a mulher tem que ter vaidade, é um colorido,”, comentou.

Rede de apoio

Ao longo do tratamento Denisa tem recebido o carinho e incentivo por meio de uma rede de apoio, formada principalmente por familiares, amigos, igreja e comunidade. Ela fala com emoção que diariamente convive com os cuidados do próprio Deus, que ‘envia anjos’ para que sua alegria esteja sempre presente. Ela conta que é nos detalhes que vive esse cuidado, esse amor por meio de pessoas que diariamente demonstram afeto e preocupação.

 “O primeiro acolhimento que tive foi daquelas duas mulheres no Hospital de Amor, um gesto tão simples, mas que para mim foi tudo. Percebi que não deixei de amar ninguém, as pessoas é que estavam distantes.  Esse câncer me trouxe todo mundo, pessoas que eu nem lembrava mais que eu amava se achegaram. Eu recebo tantas coisas, tantos mimos e tantas demonstrações de carinho, a família foi o principal, a minha mãe. Tudo isso foi um propósito de Deus, a minha mãe tem sido tudo na minha vida, os irmãos, os sobrinhos, todo mundo se achega, os amigos, a rede SUS, eu não tenho sentido falta de nada. Hoje minha palavra é simplesmente gratidão. Estou sendo muito bem acolhida pela minha igreja, o meu pastor vem aqui semanalmente para orar, tudo tem contribuído para a minha alegria não faltar”, salienta.

Por ser querida e amada pela comunidade, logo ela percebeu que não conseguiria responder a todas as mensagens que recebia diariamente, então criou uma lista de transmissão, como uma corrente de oração.  “Todos os dias me comunico com esse grupo de amigos, compartilhando minhas vivências diárias através de fotos e relatos. É uma maneira de senti-los pertinho de mim e me sentir perto deles. Na verdade, essa troca de amor faz parte da minha cura! É o processo que Deus está usando para me fortalecer e me encorajar a enfrentar essa doença com amor ao invés de dor! E assim, somos todos curados!”, disse.

Um dia de cada vez

Quando questionada sobre a principal mudança em relação à visão quanto à vida, Denisa não esconde que valoriza o momento presente e que tudo mudou. “A minha rotina era intensa, todos os dias indo trabalhar em Palmas, lidando com crianças como educadora, e de repente isso tudo muda, diagnosticada com um câncer e sem essa rotina. E aí é onde tenho que fazer a minha escolha, ou eu vou sofrer ou vou ser feliz assim. A minha vida se resume praticamente a esse quarto, tenho que ficar mais resguardada, tudo se limitou. Pedi a Deus paciência para viver um dia de cada vez, e não é fácil”.

 Ela ressalta ainda que não vive mais de planos, para não criar expectativas. Prefere viver cada desafio por dia, cada momento como se fosse único.  “O que quero deixar para as pessoas é essa lição de aceitação e gratidão. Aceitar as situações da sua vida entendendo que as escolhas são você que faz. Viva a vida com alegria, aceite as coisas como elas são, reclame menos e agradeça mais, e não murmure. Viver um dia de cada vez, hoje vivo de fato essa experiência, sem planejamentos”.

 Apesar de as lágrimas e a emoção se fazerem presentes por diversos momentos, a alegria não foge de sua essência. “Amadureci tanto e não deixo de ser feliz, sorrir, pois acho que nem combina comigo, mas eu choro, principalmente à noite, e quando me lembro desse processo que estou vivendo agora, que é a quimioterapia. Mas eu agradeço sempre, às vezes não estou bem, mas prefiro o silêncio a reclamar. Eu escolhi sorrir do que chorar, agradecer do que reclamar, ficar calada a murmurar”, disse.

Alerta

Como as autoridades em saúde reforçam, Denisa não deixa de fazer o alerta para que as mulheres e homens se previnam do câncer por meio da detecção precoce. “O meu diagnóstico foi no início, mas de muitas pessoas não foi, e eu poderia ter sido diagnosticada mais cedo ainda. Prevenir é viver mais e ter esperança. Se você não se previne, as esperanças são menores. Não vacile, é um pedido que deixo para as mulheres e homens”.

As demonstrações de fé foram sempre uma caraterística. A vivência e a espiritualidade fazem toda a diferença neste processo. “Todos os dias a mamãe faz o culto doméstico comigo, ora, a igreja e a religião neste momento são muito importantes. Deus para mim é tudo, eu posso estar sozinha, mas posso estar feliz, isso é uma força, de verdade. Fé é vivência diária”, comentou.

Esperança

Mulher de fé, de alegria, dona de um sorriso único, uma personalidade forte e um coração gigante. Denisa travou uma batalha que poderia ser diferente, com demonstrações de dor, tristeza e sofrimento. Mas ela escolheu ter fé, escolheu agradecer e acreditar. Finalizamos com uma mensagem que nos emociona e é inspiração.

 “Desde que fui diagnosticada com o câncer cheguei a esta conclusão, que tudo se baseia na vida com o que você planta e o que você colhe. E todas essas duas fases estão pautadas bem criteriosamente com o cuidado de plantar e a paciência: a qualidade do que se planta e a paciência da espera. A minha intenção é minimizar o sofrimento, e não aumentar. Então eu encaro com muita naturalidade, como se eu não tivesse doente”, finaliza Denisa.

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