CAPIM-DOURADO: Jalapão celebra o Ouro do Cerrado em colheita demonstrativa e clama por proteção contra queimadas

por Jornal Folha do Jalapao — 15/09/2025 às 10:13 — em Cidades, Destaques

Quilombolas demonstram preocupação com a preservação da matéria-prima mais importante da região, afetada pelas queimadas que, neste ano, destruíram diversas veredas. A colheita demonstrativa é o ponto alto do evento, quando moradores expressam no campo o amor e gratidão pelo ouro do Jalapão

O capim-dourado é fonte de renda e sinônimo de uma cultura secular herdada no Jalapão por pessoas que seguem buscando garantir que essa tradição se perpetue. Mas uma das maiores riquezas do Cerrado tocantinense, está sob ameaça constante devido às queimadas. A preocupação com a preservação da matéria-prima essencial ao artesanato típico do Jalapão marcou a colheita demonstrativa realizada durante as festividades do Quilombo Mumbuca, no Jalapão. O domingo, 14, foi de sol forte e emoções à flor da pele na vereda, local onde o capim nasce e se destaca em meio à vegetação nativa.

No campo, os quilombolas cantam e expressam amor e gratidão em canções embaladas pela tradicional violinha de buriti, instrumento profundamente enraizado na cultura local. A colheita oficial só pode começar a partir de 20 de setembro, conforme o calendário legal estabelecido para garantir a sustentabilidade da espécie, um prazo respeitado com rigor pelos artesãos. Durante a celebração, autoridades, representantes do poder público e visitantes puderam ver de perto como o “ouro do Jalapão” é colhido.

As mulheres entoam cânticos ao som da violinha, enquanto lideranças locais reforçam a importância de valorizar a cultura e, sobretudo, preservar a haste que representa o sustento de milhares de famílias. Nomes como Noemi Ribeiro (conhecida como Dotora), Sirlene Matos, Silvanete, Tonha Mumbuca, e os violeiros Arnon e Nissim, uniram-se em defesa da conservação. Em um momento simbólico, pediram que mais organizações se juntem à causa. Em nome da comunidade, Sirlene deu as boas-vindas aos visitantes, com palavras de acolhimento e resistência.

Preservação em pauta

“Para combater o fogo, é necessária vigilância 24 horas, com revezamento das equipes do Naturatins e do Ibama”, alertou o mestre da violinha de buriti, Arnon Ribeiro. Também presente à celebração, o prefeito Jesy Vieira destacou sua preocupação com os impactos ambientais e a alegria de participar da tradição.

“É uma alegria imensa fazer parte desta cultura do povo da Mumbuca. Sabemos que o capim-dourado é o meio de vida de muitas famílias. Contribuir com esse festejo é motivo de orgulho, e durante a minha gestão, farei o possível para continuar apoiando. Estar aqui, agora como gestor, é ainda mais significativo”, afirmou.

O prefeito reforçou o compromisso da prefeitura em garantir os apoios necessários para viabilizar a colheita. “Essa é uma comunidade que depende muito do apoio público. Muitos moradores enfrentam dificuldades para chegar até as veredas, então o papel da gestão é garantir logística e estrutura para que todos possam participar. É uma forma de retribuir e apoiar a comunidade”.

Ao lado dele, a primeira-dama e secretária municipal de Assistência Social, Ana Cláudia, também se emocionou. “Foi uma experiência única. Moro em Mateiros há 26 anos e, pela primeira vez, participei dessa vivência. Aqui na Mumbuca, onde a cultura se mantém viva e onde o capim-dourado é cuidado com tanto zelo, posso afirmar: é uma experiência inesquecível”.

Parcerias e fortalecimento da cultura

Um dos parceiros do evento é o Sebrae, representado pela analista Admary Monteiro, que destacou a importância da Rota Quilombola, um dos projetos desenvolvidos na região. “Nosso papel é renovar ciclos e fortalecer a Rota Quilombola, contribuindo com a festa da colheita. A ideia é evoluir constantemente, focando no empreendedorismo local e na valorização da cultura e da gastronomia regional”.

Durante o evento do dia 12, Vaneça Corado, supervisora do Parque Estadual do Jalapão, representou o presidente do Naturatins, Cledson Lima, e participou da Mesa Dourada, um dos momentos mais simbólicos da festa. Ela destacou as ações do órgão ambiental. “O capim-dourado é protegido pela Lei nº 3.594/2019, que institui a Política Estadual do Uso Sustentável do Capim-Dourado e do Buriti. Essa legislação visa garantir o desenvolvimento sustentável das comunidades tradicionais que trabalham com o artesanato. No entanto, a responsabilidade é coletiva. É fundamental que todos respeitem a legislação, sem proteção, essa cadeia produtiva pode entrar em colapso”.

Tradição e resistência

Entre os muitos que participaram da demonstração, o ex-prefeito de Mateiros, Pastor João Martins, compartilhou sua emoção. “Me emociono porque participo todos os anos. Sempre reforçamos os pedidos por melhorias no acesso, que ainda é complicado. A festa cresceu muito, e com ela, também as dificuldades. Felizmente, temos o apoio do Governo do Estado, de empresários e parceiros. Esperamos que no próximo ano possamos contar com ainda mais ajuda”.

Também participando pela primeira vez, o secretário de Turismo do município de Novo Acordo, Mhabyo Robson, agradeceu pela recepção calorosa ao acompanhar a dupla Nissim e Hemerson.

Ao final, com orações, cantos e pedidos por proteção, os homens e mulheres jalapoeiros celebraram mais uma vez a cultura secular. O dom de trançar o capim, herdado por dona Laurina e dona Miúda, segue vivo perpetuado com orgulho, alegria e emoção pelas mãos talentosas das artesãs da Mumbuca.

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