Tocantins - 26/04/2024 - 02:42

Folha do Jalapão

“Estou elegível, mas a decisão de me candidatar a prefeito de Palmas ainda passa por reflexões”

Postado em 15/06/2020

Ex-deputado avalia o cenário político, expõe suas impressões sobre a gestão atual de Palmas e a possibilidade de voltar a disputar a prefeitura

Por Dock Júnior  – Jornal Opção –

Marcelo de Lima Lelis é goiano de Inhumas. Um dos pioneiros de Palmas e do próprio Tocantins, foi auxiliar direto da ex-prefeita da capital Nilmar Ruiz, entre 2001 e 2004. Sempre pelo PV, elegeu-se vereador na capital em 2004 e deputado estadual em 2006, após obter 11.857 votos. Foi candidato a prefeito de Palmas em 2008, contudo, não obteve êxito. Em 2010 foi reeleito ao parlamento estadual com a expressiva votação: mais de 24 mil votos. Já em 2012, disputou novamente o cargo de prefeito da capital, contudo, foi derrotado por Carlos Amastha, mesmo após obter 43,24% dos votos.

Em 2014, Marcelo Lelis esteve cotado para ser o candidato a vice-governador na chapa encabeçada por Marcelo Miranda. Entretanto, em razão de imbróglios judiciais referentes às eleições de 2012 – que questionavam sua elegibilidade –, se afastou momentaneamente da política.

Nesta entrevista ele aborda projetos pessoais e empreendedorismo, avalia o cenário político, expõe suas impressões sobre Palmas e a condução administrativa da atual gestão, como também as possibilidades de se candidatar novamente a prefeito da capital tocantinense.

Entrevista

Em razão da pandemia decorrente da Covid-19, o sr. empreendeu ações sociais que contribuíram para que pequenos comerciantes da capital não viessem à falência, em razão do isolamento. Como funciona a ferramenta “Palmas Trabalha”?

Após os devastadores efeitos do coronavírus, naturalmente a solidariedade ficou ainda mais aflorada em todos nós. Logo no começo da pandemia, conversando com amigos publicitários, debatíamos sobre as campanhas que surgiram nos aplicativos. A indicação era para que as pessoas adquirissem produtos dos pequenos comerciantes, estabelecidos geralmente, nos centros das quadras residenciais. Essa atitude evitaria a falência de muitos deles, pois eles eram os mais impactados pelo isolamento.

A ideia era ótima, mas estava desorganizada. Pensei que o melhor a fazer era reunir todas as informações numa só plataforma, indicando que tipo de produtos esses pequenos comerciantes, como também os feirantes autônomos, poderiam disponibilizar a população.

O fortalecimento dessa plataforma melhorou as vendas, mas ainda era necessário cadastrar outros potenciais clientes, além de conscientizar os consumidores que – neste momento de pandemia – era necessário prestigiar os pequenos comerciantes.  

E quanto aos resultados?

Tomou muito corpo a ideia e os resultados práticos foram formidáveis. Aliás, muito melhor do que o planejado, tendo expandido, inclusive, as fronteiras do Tocantins. Muitas pessoas se interessaram em contribuir com o projeto e, graças a Deus, tem sido um sucesso. Já estamos estudando a hipótese de transformarmos o site – ou pelo menos estender – em um aplicativo, de forma tal que se torne ainda mais dinâmico.

É necessário reiterar, antes de mais nada, que essa iniciativa é totalmente sem fins lucrativos. O único interesse meu e dos parceiros publicitários é que os pequenos comerciantes sobrevivam à pandemia e saiam dela fortalecidos para continuarem os seus empreendimentos.

Falando nisso, o sr. é um empreendedor por natureza, mas em razão da referida pandemia também foi obrigado a obedecer ao isolamento social e fechar suas empresas por um certo período. Na sua visão, qual é a grande lição que essa crise mundial da saúde trouxe a todos nós?

Após minha saída da política ao final de 2014, tive que escolher: lamentar ou aproveitar o suposto infortúnio para novas oportunidades. Escolhi a segunda hipótese. Reforcei minhas atividades comerciais no ramo da jardinagem e paisagismo, como também empreendi no segmento de hotelaria. Juntamente com minha família, construí uma Pousada em Taquaruçu denominada Aldeia da Serra. Graças a Deus, surtiu bons resultados e sobrevive por si só, apresentado lucros mensais desde o início de seu funcionamento.

A empresa incentiva e contribui para a ampliação do polo turístico de Taquaruçu, emprega aproximadamente 40 funcionários e gera, por consequência, renda e pagamento de impostos. Além disso, convém ressaltar que o funcionamento da pousada naquele distrito gera, também, empregos indiretos.

Obedecemos aos decretos governamentais e às instruções dos técnicos em saúde e, por isso, o empreendimento ficou fechado durante o período da pandemia. Já estamos nos organizando, no entanto, para reabrir aos poucos, com todos os protocolos de segurança, limitação de público – apenas 60% da capacidade –, além de aplicação de restrições naturais ao perigo que ainda vivemos, em razão da nossa nova realidade, após a Covid-19.

Por longos anos o sr. presidiu o PV no Tocantins, aliás, o sr. foi um dos fundadores da sigla. Hoje a sigla é comandada pela sua esposa, deputada estadual Claudia Lelis, e conta com dois deputados estaduais e um vereador em Palmas. Qual é a sua visão acerca das novas legislações que tentam, na essência, extinguir partidos nanicos ou sem representatividade?

Existem duas modalidades de pequenos partidos. Alguns obedecem a bandeiras ou ideologias e defendem uma parcela da sociedade. O PV, por exemplo, tem esse eixo principal, que é a constante preocupação ambiental, mas, naturalmente, não se detém apenas a isso. Trata-se de um partido idealista, que não se vende, que opta – na maioria das vezes – por candidaturas próprias ou por alianças que estejam baseadas em ideias, projetos e programas sólidos. O PV, assim como outros pequenos partidos que seguem linhas ideológicas, deve ser mantido, na medida em que contribui, sobremaneira, para o sistema político brasileiro.

Ao mesmo tempo, também existem os pequenos partidos que são apenas “siglas de aluguel”, que estão sempre negociando espaços e vantagens. A tendência, pela nova legislação, é que esses partidos sejam eliminados do cenário político, visto que pouco contribuem com o país.

E como o sr. avalia a condução do mandato do vereador Erivelton Santos em Palmas?

O Erivelton é, acima de tudo, um ser humano de caráter, com linhas de pensamento e condutas muito claras. Ele tem o respeito e a simpatia dos membros do partido. É um vereador democrático que defende seus preceitos, sabe ouvir, debater e justificar suas posições. Zela muito pela organicidade partidária e defende a ideologia da sigla. Enfim, tem feito um bom trabalho no parlamento, na medida em que o partido permite que sua atuação seja livre.

Considerando que o PV tem dois deputados na Assembleia Legislativa, como o sr. tem avaliado a conduta dos parlamentares?

Como já foi dito, a minha esposa, Claudia Lelis, hoje preside o partido no Tocantins. A atuação parlamentar dela é diferente daquela que eu tive durante minhas passagens pelos parlamentos. Eu sempre fui combativo e, várias vezes, fiz discursos inflamados sobre os meus posicionamentos na tribuna. Já ela tem um estilo próprio, se mexe com mais tranquilidade. Creio, inclusive, que ela é mais habilidosa que eu e se comunica muito bem, quando o assunto são as articulações e aprovação das suas matérias. Os resultados têm sido extraordinários.

Inobstante a isso, é forçoso reconhecer que, desde o momento que disputou e ganhou a eleição de 2014 na condição de vice-governadora e assumiu o cargo, seu aprendizado foi constante. Não tive qualquer influência nas ações ou decisões que ela tomou no exercício da vice-governadoria, de forma tal que os méritos são exclusivamente dela. A musculatura política adquirida é, portanto, o resultado de um trabalho bem feito em qualquer cargo que ocupe.

Em relação ao processo sucessório de Palmas – considerando todo seu histórico de vínculos com a cidade, na condição de vereador, deputado estadual e candidato a prefeito em outros pleitos –, o sr. ainda tem interesse em disputar a Prefeitura?

Serei muito mais do que sincero em relação a este tema: após debater muito com as pessoas que me rodeiam, como também com os componentes do meu grupo político, estou decidido a não mais exercer cargos no legislativo. Já dei a minha contribuição no exercício desses cargos (vereador e deputado estadual) e prefiro continuar tocando o meu projeto de vida como empresário.

“Sou completamente apaixonado por Palmas”
| Foto: Ben Hur

Entretanto, uma coisa é inegável: sou completamente apaixonado por Palmas. Moro aqui há mais de 25 anos, participei ativamente da construção da capital. Minha primeira missão foi planejar e executar a arborização e o ajardinamento da cidade. Fui vereador porque acreditava que poderia contribuir de algum modo com o desenvolvimento da cidade. Da mesma forma, fui deputado estadual com os votos da capital, justamente porque acreditava que poderia ser útil ao crescimento de Palmas.

Por tais razões, não posso negar que passa pela minha cabeça ser prefeito de Palmas. Gostaria de dedicar integralmente quatro anos da minha vida para esse projeto. Digo isso porque já vivi a política e sei que ela te consome por completo. O convívio familiar se exaure e sei que exercer um cargo público, principalmente no Executivo, é quase um sacerdócio.

O que me move não é o poder pelo poder, nem o dinheiro, nem tampouco o “status” do cargo. Atualmente como empresário, vivo muito bem e não precisaria das benesses e confortos que o cargo proporciona.

Isso quer dizer que o sr. é candidato a prefeito de Palmas em 2020?

Não, essa decisão ainda passa por muitas reflexões e diálogos, com minha família e com o grupo político. Ter interesse em ser prefeito de Palmas é uma coisa, mas partir para a disputa é outra bem diferente. Sei que essa decisão deve ser muito bem analisada, porque, uma vez tomada – pelo sim ou pelo não – torna-se em irreversível.

Além disso, é um momento muito delicado para tratarmos desse tema. Todo nosso foco e energia, no momento, têm que estar voltados para sair dessa crise e retomar o desenvolvimento econômico de Palmas, do Estado do Tocantins e do País.

Portanto, no momento certo comunicarei minha decisão final, se vou me candidatar ou se vou apoiar outro projeto, que me convença em todos os aspectos. Palmas tem um enorme potencial a ser desenvolvido e explorado em todas as áreas. Precisamos de um projeto transformador para essa cidade.

Sob essa ótica e enquanto cidadão, como o sr. vislumbra a atual gestão de Palmas?

Poderia ser muito melhor, tenho certeza. A cidade tem vocações que estão adormecidas, como o incentivo ao esporte e ao turismo, por exemplo, no grande lago, na Serra do Carmo, em Taquaruçu etc. Essas vocações deveriam ser potencializadas, com ciclovias, além de novas avenidas que interligariam nossas praias.

Há vários problemas infraestruturais que merecem mais atenção, pois a falta de asfalto ainda é um problema para inúmeras quadras de Palmas. Creio que é possível – com muito planejamento – desenvolver um trabalho melhor na nossa cidade, também em outras áreas básicas como na saúde, educação e segurança.

Reconhecidamente o sr. tem um legado político nos seus 28 anos na cidade e pelo exercício dos cargos públicos. Contudo, após a eleição de 2012 houve ações judiciais sobre ocorrências na campanha eleitoral que lhe deixaram inelegível. Qual é a real situação acerca da sua elegibilidade?

Enquanto deputado estadual fui o autor do projeto que criou e aprovou a “ficha limpa” no âmbito do Estado do Tocantins. Não respondo por nenhum processo judicial pelo exercício das minhas funções, quer seja como secretário, vereador ou deputado. Não quero entrar em detalhes, mas o que houve em relação à campanha eleitoral de 2012 foi, na verdade, um lamentável equívoco, que não compensa expor por aqui.

Isso me serviu de lição, redescobri que existe vida fora da política e, aliás, me encaixei muito bem nela (risos). Mas, respondendo ao seu questionamento, houve uma condenação em 2012 e ela se encerra agora em 2020. Portanto, para essas eleições vindouras, estou juridicamente apto para a disputa, caso minhas convicções pessoais me norteiem por este caminho.

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