Guerreiras do Jalapão mostram a cara e falam de suas lutas e conquistas
Postado em 06/07/2020
ESPECIAL
por Wherbert Araújo –
Atuação de cada uma delas fortalece o desenvolvimento social e econômico de uma das regiões mais belas do Estado, mas que ainda carece de investimentos.
- Uma juíza empenhada, uma líder comunitária que herdou da mãe o ofício de representar e tomar a frente de uma comunidade tradicional.
- Uma professora que entrou para a política e hoje é prefeita de uma cidade isolada do Tocantins.
- A dona de casa que abriu no quintal um pequeno restaurante e hoje é proprietária de um lindo restaurante no Jalapão.
- A jornalista que buscou um novo segmento de trabalho e hoje é referência na região do Jalapão.
- Uma empresária que acreditou no ecoturismo numa época em que o Jalapão ainda não era conhecido nacionalmente.
- A Doutora do Mumbuca, que sonha em ver sua comunidade se tornando auto-sustentável, além de garantir a preservação ambiental.
Essas representantes do Jalapão contam parte da trajetória de suas vida. Todas elas trazem em seu perfil traços de coragem, determinação e vontade de corres atrás dos sonhos. Nesta que é a região mais bonita do Tocantins e considerada um dos principais destinos brasileiros, apresentamos mulheres fortes, como tantas outras anônimas que ilustram agora este portal de noticias.
A juíza
Todos os dias, a juíza de Direito Aline Bailão Iglesias acorda cedo para acompanhar uma maratona exaustiva de audiências e atendimentos populares no município de Novo Acordo, cidade localizada na região do Jalapão distante a 100 quilômetros da Capital Palmas. “Em dias puxados chego a realizar mais de 10 audiências”, ressalta.
A líder
No mesmo horário, a líder comunitária Noemi Ribeiro da Silva agradece a Deus por mais um dia de vida no povoado do Mumbuca, comunidade tradicional quilombola localizado no município de Mateiros que atualmente sobrevive da comercialização de artesanato e do incentivo ao turismo por meio de visitas de turistas de todas as partes do mundo.
A cozinheira
A cozinheira Maria Rosa precisa acordar pouco antes de sol nascer para temperar carnes, cortar legumes e preparar o cardápio do dia. Hoje ela é uma das maiores empresária de Mateiros.
A prefeita
As manhãs também são puxadas para a atual prefeita de Lizarda, Suelene Lustosa Matos (PSD), também conhecida como professora Sussu, no município distante a 217 quilômetros da Capital, cujas estradas não pavimentadas dificultam o acesso à cidade.
A jornalista
Já a jornalista Wenina Miranda busca conciliar agenda puxada de trabalhos ora na Capital, na busca de novas notícias, ora desbravando as estradas do Jalapão. “Perdi as contas de quantas vezes ficamos atolados. Teve vez em que precisamos passar a noite na estrada”, afirmou.
A empresária
Rotina puxada vive a empresária Lázara Maria da Silva, goiana de nascença e moradora de Ponte Alta do Tocantins desde a década de 80 no século passado. Intitulada a “Maria Bonita do Jalapão”, ela afirma ter a mesma coragem e disposição que a lendária figura nordestina. “Quando comecei a trabalhar levando os turistas para o Jalapão, meu primeiro cliente colocou este apelido e ele pegou, então me sinto honrada de ser chamada assim”, ressalta.
Desafios
Todas as seis mulheres apontam os desafios de se viver na região do Jalapão. “Encontramos um município de Lizarda com infra-estrutura deficitária. Não possuímos uma creche, ginásio de esportes, a cidade precisa de pavimentação. Já fui dezenas de vezes em Brasília em busca de recursos, aponta a prefeita Sussu de Lizarda.
Já Doutora, do Jalapão, viu com tristeza o ato criminoso que destruiu a ponte que liga o povoado à cidade de Mateiros. “Foi muito triste”, afirmou.
Questionada sobre o motivo de ter começado a vender refeições em casa há quase 20 anos, dona Rosa ressalta a necessidade de buscar renda e sustento para a família. “Eu precisava trabalhar. Não tinha como manter meus filhos porque sou divorciada, graças a Deus”, afirmou sorridente.
Já a jornalista Wenina Miranda desbravou sozinha a região do Jalapão levando as notícias que aqueles moradores precisavam saber. “Passamos muitas dificuldades. Teve vez que o jornal nem chegou a circular por falta de recursos. Mas hoje é gratificante chegar numa cidade, distribuir o jornal e observar as pessoas lendo as nossas notícias. Isso nos deixa muito satisfeitos”, afirmou.
Para a juíza Aline, a rotina de trabalho chega a triplicar quando são organizados mutirões de atendimentos nos demais municípios que compõem a comarca de Novo Acordo (Aparecida do Rio Negro, São Félix, Santa Tereza, Lagoa do Tocantins e Lizarda, por meio do Juizado Eleitoral).
De aparência jovem, a magistrada afirma que alguns advogados já chegaram a tentar intimidá-la ao observar sua postura dócil, mas firme. “Já percebi algumas vezes, mas isso é algo que não me deixa abater”. Sobre o fato da sua integridade física, a juíza ressalta que a Comarca carece de um policiamento e serviços de segurança. “Trabalhamos muito com processos agrários e em caso de abuso de vulnerável. Acho que o fórum necessita de um reforço no policiamento”, argumentou.
Já a empresária Lázara Maria afirma que nunca chegou a presenciar preconceito pelo fato de ela trabalhar também como guia turística. “Em alguns casos de famílias que vem nos visitar e que possuem filhos pequenos acabam preferindo que eu faça o traslado porque eles se sentem mais próximos”, afirmou.
Sobre o preconceito de não ser graduada em Jornalismo, mesmo tendo a certeza de que exerce com maestria o ofício da Comunicação, Wenina Miranda não se abate com as críticas que recebe. “O papel do jornalismo é esse. Levar a notícia com isenção e credibilidade. Fatos que agridem a nossa honra são resolvidos na justiça. Cursei a faculdade da vida e tenho muito orgulho em representar meu povo jalapoeiro”, afirmou.
Sonhos
Para “Doutora”, o principal sonho é de ver sua comunidade se tornando auto-sustentável, além de garantir a preservação ambiental. “A labuta com o Capim Dourado a gente pretende deixar para as próximas gerações e não podemos deixar que isso acabe”, afirmou.
Já a doutora Aline espera trabalhar arduamente em prol da comunidade, mas que possa todos os dias voltar para sua família. “Tenho uma casa aqui em Novo Acordo. Gosto desta cidade. Sempre que podemos pegamos o carro e vamos conhecer as belezas da região. Sou muito caseira, gosto de estar perto da minha família e dos meus amigos”, afirmou.
Dona Rosa abriu um espaço maior para receber as centenas de visitantes. “Tudo ficou bonito”.
A prefeita Sussu lutou muito para conquistar melhorias para seu município. “Estamos trabalhando nisso. O município de Lizarda precisa de asfalto ligando à capital Palmas, precisa de infra-estrutura em todas as áreas. Assim é possível promover qualidade de vida e desenvolvimento econômico e social”, afirmou.
Para Dona Lázara, que já recebeu milhares de turistas, a felicidade em proporcionar momentos de descontrações e lazer para quem conhece o Jalapão. Já recebemos até o cantor Ney Matogrosso. Uma vez um casal subiu a Pedra Furada e era muito cedo. Na hora de descer, com o dia claro, eles ficaram com medo. Felizmente tudo deu certo”, comemora sorridente.
Para Wenina Miranda, o fato de poder contar as histórias do povo jalapoeiro é o resultado de quase 20 anos de trabalho. “As pessoas me dizem que eu sou uma guerreira, por batalhar por todo esse tempo. Acho que sou mesmo. Mas iguais a mim existem outras milhares de mulheres no Jalapão cuja história é importante. Essa é a minha missão. Ir atrás dessas histórias”, afirmou.