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Folha do Jalapão

SEU AGENOR BARBOSA: O pioneiro aparecidense que construiu a família com base na honestidade e em valores sólidos

Postado em 31/05/2021

O Jornal Folha do Jalapão publica a quarta história de pioneiros de Aparecida do Rio Negro nesta semana do aniversário de 32 anos do Município. Nestas matérias especiais, pretendemos valorizar a cultura local e resgatar as memórias dos pioneiros, para não deixar que a trajetória de lutas e vitórias, que marcam o desenvolvimento do Município, caiam no esquecimento. Hoje nosso personagem é o senhor Agenor Barbosa, pioneiro que vive no Município desde sua criação.

– ESPECIAL APARECIDA 32 ANOS –

O semblante sério e fechado esconde um ser humano compreensivo e atencioso, e que tem como base a moralidade e os valores familiares. Assim é seu Agenor Barbosa, de 74 anos, que antes mesmo de Aparecida ser emancipada, já habitava o cerrado da região. Por meio de uma família sólida, seu Agenor ajudou na construção do Município, e hoje colhe os frutos de uma vida de trabalho árduo.

Quem se aproxima do senhor Agenor Barbosa Sales sabe que o pioneiro, de 74 anos, possui um semblante de muita seriedade. Mas com apenas alguns minutos de conversa se percebe que seus traços escondem uma pessoa singela e com uma enorme sabedoria.

Instalado na mesma residência desde o ano que passou a morar no então povoado de Meira Matos, em 3 de março de 1971, o lar na Avenida Sebastião Vasconcelos sofreu poucas mudanças ao longo dos anos. Quem passa pelas proximidades da Praça José Eurico Costa sempre tem a oportunidade de vê-lo sentado na calçada. E é nesta mesma calçada que ele vê o desenvolvimento chegar cada dia mais rápido nestes 32 anos de Aparecida do Rio Negro.

“Aparecida se desenvolveu devagar uns tempos, e aí depois foi se desenvolvendo mais. O José Eurico foi o primeiro prefeito, logo morreu, mas o desenvolvimento maior foi de uns tempos para cá”, comenta o entrevistado. Ao receber a nossa equipe, seu Agenor logo se pergunta, “mas porque eu?”, e em uma conversa sobre tantas histórias ele se revela uma pessoa que preza visivelmente por valores como honestidade, palavra e compromisso.

Ao falar da história política da Cidade, ele comenta que cada prefeito do Município deu sua contribuição, com destaque para o prefeito Deusimar, que nos últimos 8 anos esteve à frente da Gestão.

A família de seu Agenor sempre deu sua contribuição no Município, e tem um berço político na região com influência em todo o Estado. Seu Agenor é tio do atual vice-governador do Tocantins, Wanderlei Barbosa, e tem na família outros nomes importantes no cenário político estadual, além de um filho que está em seu segundo mandato como vereador de Aparecida do Rio Negro, Evandro Barbosa. “Ele sempre quis ser vereador e esse dom já vem de toda a família, sempre apoiei, e graças a Deus a nossa família é sempre engajada e procurada”, comenta seu Agenor.

A Fazenda Altamira

Foi em um lugar não muito distante do então Meira Matos que seu Agenor foi criado: na Fazenda Altamira, localizada a cerca de 16 Km da Cidade, lugar que até hoje é cuidado e zelado, e pertence a ele. Foi lá que seu Agenor e seus sete irmãos foram criados pelo senhor Supercílio Barbosa de Souza, e pela senhora Maria Barbosa Sales.

A seriedade tão presente em seu semblante foi herdada do pai. “O papai era um homem de ordem, pessoa séria, pessoa honesta, trabalhador, e isso foi repassado para todos nós. O papai era muito bom com os filhos, o melhor pai que existia era o meu. Ele só repassava e ensinava a gente ser honesto, direito, andar certo com as coisas”.

Mesmo naquela época seu Agenor já driblava as dificuldades para fazer o que muitos fizeram no município: participar das festas no salão do Bispo. “Eu fui sim dançador de forró no salão do Bispo, tinha festa grande lá. Fui um pouco namorador também, até chegar na esposa. Não tem mais festa como antes, a gente vai trocando de idade, mas de vez em quando a gente dança. Outra coisa que gosto é dos festejos de Nossa Senhora Aparecida”, conta o pioneiro.

O pioneiro relembra os primeiros passos do então Meira Matos “Aqui não tinha praticamente nada, era um sertão. Em 1965 o prefeito de Tocantínia e o tio Regino Barbosa decidiram formar um povoado aqui, escolheram esse lugar e colocaram o nome de Povoado Meira Matos. Em 1971 tinha muita pouca coisa, algumas casinhas ao redor da praça, duas casinhas aqui para esse lado, mais umas duas para o outro lado, aqui quase não tinha nada“, relembra.

Casamento

Há 50 anos ele é casado com dona Maria do Carmo Gomes Sales, e conta como a conheceu. “Seu Pedro, o pai dela, foi morar lá perto, foi ser vaqueiro, e comprou um lugar próximo da Fazenda Altamira, uns três quilômetros. Eu era um rapaz novo e ela também, e começamos a namorar. Aqui e acolá se encontrava, batia um papo, às vezes se encontrava em festa, era muito diferente, a gente dançava, mas essa intimidade que tem hoje não tinha, no máximo pegava na mão e os pais ainda ficavam achando ruim. Eu agradei de casar com ela, o pai dela toda vida era muito meu amigo”, conta seu Agenor.

Após três meses de casado, seu Agenor trouxe dona Maria para a cidade. “Moramos três meses na Altamira e mudamos para cá, ela já era professora e logo foi contratada pelo Estado. Após o início da vida a dois começaram a vir os filhos. Em 1972, uma ano após a chegada no povoado nascia  Arione. “O parto foi aqui na casa, um parto normal feito pela dona Geni do Bispo. Mais dois filhos tiveram o parto aqui na casa também”, conta.

Família

O casal teve ainda os filhos Arione, Agnaldo, Aclenes, Jairo, Evandro, Ercília, Supercílio Neto e Isabela. Seu Agenor comemora o resultado de uma vida dedicada ao esforço em repassar aos filhos o que recebeu do pai.  A prosperidade da família veio com a luta de todos, com exemplos como, um filho médico, um vereador, um servidor público, um microempresário, uma professora, uma servidora pública e um filho recém aposentado como tenente-coronel da Polícia Militar do Estado. Cada filho com um dom diferente e com a herança da sabedoria de um homem simples, e que até hoje vive na mesma simplicidade.

Ele comemora o relacionamento com todos os filhos, e ressalta que durante os encontros a alegria toma conta da casa também com os netos. “Graças a Deus o nosso entrosamento é muito bom, eu gosto de meus filhos e eles gostam de mim, e nós quando estamos juntos a alegria é grande, eu mais meus filhos damos certo em tudo. Tenho orgulho deles, são aprumados. Defeitos todo mundo tem, mas são trabalhadores, honestos, direitos, e todos estão agasalhados na vida”.

Lida na Fazenda

O trabalho na mesma fazenda acontece quase todo dia, e sempre foi dividido com a família. Até hoje seu Agenor percorre o mesmo caminho e trabalha com o gado. Durante a vida, as quedas de cavalo já foram muitas, mas nenhuma o amedrontou.

Aposentado, ele comemora a simplicidade da vida que leva, e sente orgulho em ter criado os filhos por meio do trabalho árduo na fazenda. “Papai ensinou a lida na fazenda, de mexer com criação, ensinou para os meus irmãos, todos sabem e gostam de mexer com gado e todo tipo de criação”, conta.

Uma das tradições cumpridas por seu Agenor é a devoção ao Senhor do Bonfim. Há 30 anos a família se desloca anualmente até o Santuário, e por lá são passados vários dias. “Sou católico, devoto do Senhor do Bonfim. Não fui no ano passado e nem vou esse ano por causa da pandemia. Gosto de ir para assistir à missa do dia 15 e colocar as ofertas no santuário. Já fiz promessas, já paguei e toda vez fui atendido.  Eu acho bom, o movimento que tem lá. Passo vários dias lá com a família e quando tiver de novo vamos voltar”.

Seu Agenor fala ainda que sempre contribui com a Igreja de Aparecida e é participante dos festejos da Cidade. Hoje a esposa, dona Maria, a matriarca da família é bastante religiosa, sendo ministra da eucaristia.

Amor por Aparecida

Para quem viveu e viu Aparecida crescer, seu Agenor afirma que contribuiu para o Município criando sua família de forma honesta. “Vejo que o Município hoje é muito bem desenvolvido, não vou dizer que faço parte desse desenvolvimento porque sou pequeno, mas nunca pensei em mudar daqui, é aqui que recebo os meus filhos”.

Ao relembrar os primeiros momentos de Aparecida, os pioneiros sempre são unânimes ao relatar a morte do prefeito José Eurico como o momento mais triste. “Em 10 meses de mandato ele fez muita coisa, Aparecida criou vida. Se ele não morresse teria feito ainda muita coisa. Era muito amigo nosso, ele ganhou para prefeito e entrou com uma boa disposição para trabalhar. A morte foi chocante, foi um abalo aqui para Aparecida, foi um comentário muito grande, uma chuva braba demais na hora do velório, eu estava ali debaixo da área dessa prefeitura velha, com um bocado de gente, relâmpago e trovão demais, e eu perguntei, será que nós vamos morrer tudo hoje? A morte do José Eurico foi uma coisa que ninguém esperava, de repente aconteceu”, relembra o pioneiro. 

Seu Agenor conta que a amizade sempre esteve presente também com outros pioneiros e que muitos deles contribuíram muito com o Município. “O Zome da Odília, que era muito religioso, uma pessoa que de muitos anos toda a vida a gente foi vizinho e o tio Albertino da mesma forma, esses moradores mais velhos a gente sempre foi acostumado, como Zé Ribeiro também um grande amigo da gente, o Carlindo, e todos os outros, as irmãs, todas fizeram um trabalho muito bom, Irmã Terezinha, Irmã Antônia, e Irmã Irene”. 

Em sua mensagem aos jovens aparecidenses, seu Agenor aconselha: “Procurem dar continuidade ao desenvolvimento que já teve até agora, tendo responsabilidade. Os nossos jovens serão os nossos futuros gestores. Com fé em Deus ainda vou viver muito, com os netos, filhos e com a casa cheia, para acompanhar Aparecida crescer ainda mais!”.

Finalizamos a nossa entrevista chegando a uma conclusão: atrás de um semblante sério existe um Agenor alegre que muitas pessoas não conhecem, que é entrosado e transmite alegria e paz. Agradecemos a toda a família Barbosa, em especial a seu Agenor, por nos proporcionar conhecer de perto um homem simpático, caloroso e que tanto contribuiu para Aparecida do Rio Negro, sendo referência de honestidade e moralidade no Município. Obrigada, seu Agenor!

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