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Folha do Jalapão

VITÓRIA CAMPOS: Dedicação e Amor são as marcas desta mulher que ama Aparecida do Rio Negro

Postado em 25/05/2021

O Jornal Folha do Jalapão publica a segunda série de histórias dos pioneiros de Aparecida do Rio Negro nesta semana que antecede o aniversário do Município que completa 32 anos. Nestas matérias especiais, pretendemos valorizar a cultura local e resgatar as memórias dos pioneiros, para não deixar que a história de lutas e vitórias, que marcam o desenvolvimento do município, caia no esquecimento. Hoje nossa personagem é Vitória Campos, uma mulher que tem um grande trabalho prestado ao povo de Aparecida.

ESPECIAL APARECIDA 32 ANOS

Vitória Campos é mulher forte, dona de um olhar cheio de simplicidade que apresenta em seus olhos e nas mãos calejadas os sinais de expressão do amor por Aparecida do Rio Negro. A Pioneira traz estampada em seu rosto, a doçura e simplicidade de quem dedicou sua vida a cuidar das pessoas mais carentes do Município. CORAGEM, FÉ e muita DEDICAÇÃO são algumas das características na trajetória da pioneira. 

Em nossa segunda matéria especial, escrevemos parte da vida de Vitória Campos. Durante a entrevista choramos e sorrimos com a pioneira, que não escondeu os sonhos que ainda não foram realizados. Ela é mãe de Cleivânia, Joelma, Reginaldo, Jaliton, Rejane, Fábio Júnior, Jackeline e Diogo Campos.

Na tarde do dia 22 de maio, fomos recebidas por uma mulher elegante, que se produziu em cada detalhe: o cabelo, os acessórios, o vestido, o salto, o batom que deu cor ao seu semblante sofrido.  Vitória Campos é uma mulher forte, determinada e muito segura, luta por várias causas e foi vereadora em quatro mandatos. Sua contribuição para o desenvolvimento de Aparecida do Rio Negro é muito importante. As marcas de expressão da idade não tiraram dela a beleza da mulher que por uma vida inteira se dedicou aos mais carentes do Município. 

Dona Vitória Campos, 65 anos, é exemplo de mulher determinada e é o pilar da família. Mãe de 16 filhos, sendo 8 adotivos, tem 8 netos e 2 bisnetos, é casada com o senhor Abelo Santos.

O dia a dia da pioneira é dividido com o povo que ela atende mesmo sem mandato. Depois de exercer o cargo de vereadora por 16 anos, e de vice-prefeita por quatro anos, ela continua prestando serviços sociais ao povo. “Faço meu trabalho por amor, o povo confia em mim. Sou procurada todos os dias, não posso virar as costas para as pessoas. Eu acho que um político que é político, tem que fazer isso, é na alegria, é na tristeza, é na saúde, é na doença, em tudo. Ele tem que estar junto o tempo todo”, enfoca a pioneira.

Ao falar sobre o povo de Aparecida, Vitória ressalta o amor que sente e a importância de receber bem uma pessoa em sua casa. “É tão bom você ser bem atendido na hora que você chega em uma casa. Eu fico tão triste quando eu sei que uma pessoa carente procurou a casa do prefeito ou do vereador e saiu dali triste, porque dizem que ali não é o lugar de atender o povo, que o lugar é lá na Prefeitura. Eu fico triste, eu choro porque eu acho que o prefeito, vereador, vice-prefeito, tem que ser político toda hora, estar pronto para abraçar e atender o povo a todo momento”, reforça.

Ao relembrar sua criação, ela se emociona. “O meu pai foi um paizão. Além de cuidar de nós, também cuidou dos sobrinhos, quando a irmã dele morreu, ele acolheu os sobrinhos todos em sua casa. Criou todo mundo, a casa do pai era cheia”.

Ao relatar sua história, a pioneira destaca que veio de uma família humilde, e isso a faz querer ajudar mais o próximo. “Eu abracei essa causa porque eu também vim de uma família carente. A gente vê a carência do nosso município. E via também que não tinha ninguém que se preocupava em fazer esse trabalho. É um trabalho que eu me sinto orgulhosa de fazer”, frisou.

“É muito triste ver um pai de família, um cidadão bater na porta da Prefeitura direto, pedindo uma cesta para poder dar alimentação aos seus filhos. E eu achei por bem correr atrás de um auxílio maternidade que dá direito a quatro salários mínimos a uma mãe que tem um filho. A mãe da roça que trabalha na roça, uma mãe que tem carteira assinada, todas elas têm esse direito”, frisou.

Dona Vitória ainda destacou o exemplo de Zé Bonina, idoso que acolheu e conseguiu viabilizar sua aposentadoria. Como não tem família, até hoje reside na casa da pioneira.

Ao lembrar da criação de Aparecida, Vitória chora ao mencionar José Eurico Costa (in memorian) que para ela é o maior desbravador do Município. “Eu trabalhei muito com o Zé Eurico, aqui em Aparecida nunca vai ter uma pessoa como ele. Ele é nossa história.  Eu cuidava de limpar a casa dele, fazer a comida, e presenciei muitos atos de amor naquela casa. Lá chegava carro cheio de gente para comer. Eu fazia comida para todo mundo, tinha dia que chegava em minha casa era duas ou três da manhã, porque tinha que agasalhar todo mundo para dormir. Foi dali que eu criei amor em ajudar o próximo. Deus me deu a oportunidade de ajudar o próximo, assim como deu a Zé Eurico. Hoje, se Zé Eurico não tivesse morrido, Aparecida estava bem melhor. Porque ele sonhava, ele não dormia. Ele corria atrás. Ele tinha vontade de ver Aparecida desenvolver. Naquele tempo ele conseguiu a fábrica de farinha, mas logo que ele morreu, deixaram tudo acabar”, relembra a pioneira.

Coragem e determinação é a bagagem principal que Vitória Campos apresenta nesses 65 anos. Foi na carroceria de um caminhão pau de arara, que ela andou mais de 300 km para fazer um concurso que lhe deu direito a uma aposentaria. “Nunca me envergonhei de trabalhar. Era na faxina, era merenda, vendendo geladinho, fazendo suco, vendendo as coisas, assim que criei meus filhos. Olha que hoje tenho orgulho de tudo que fiz. Foram anos que dividi minha vida cuidando de meus filhos e do povo da cidade. E isso me tornou um ser humano melhor. Perdi minha mãe ainda criança, meu pai me ensinou a lidar com a vida dura cedo. Quando o pai arrumou outra mulher, os meninos não quiseram ficar com ele, foram todos morar comigo, aí você já imagina que sempre convivi com a casa cheia”, relembra.

A pioneira conta que ingressou na política a convite do ex-prefeito Sebastião Pinheiro (em memória), época que disputou uma vaga na Câmara Municipal. “Eu não conseguia nem pegar em um microfone, tremia toda, mas durante a campanha peguei gosto, via que era muito bonito aquele trabalho, fui tendo contato cada dia mais com as pessoas e isso me fez vereadora por mais três mandatos”.

Ao falar sobre os quatro mandatos de vereadora, Vitória conta que lutou junto aos demais para conseguirem melhorias para o Município. Foram vários projetos apresentados, mas de acordo com ela, poucos atendidos, mas que o trabalho social ela mantinha por conta própria. “Nesse período só teve um prefeito que não me ajudou, esse desconhecia a necessidade do povo carente. Mas os outros ajudavam no que podiam, quando eu ia até eles, sempre buscavam uma forma de ajudar”, conta.

Hoje Vitória não vê na Câmara Municipal uma atuação boa, de acordo com ela, os vereadores estão perdidos no tempo, não apresentam projetos bons e não conseguem manter um diálogo coerente. “Não importa se você é situação ou oposição na Câmara. O vereador tem que ter sabedoria para defender e para cobrar. Em meu tempo, eu batia de frente mesmo, quando tinha que discutir. Enfrentava e não tinha medo. Outro dia, fui lá na Câmara assistir a sessão. Tenho um filho que é vereador. Eu cheguei a falar para Ernane que está muito lento o trabalho deles, ou se unem e vão atrás das coisas, ou vão ficar aí quatro anos só defendendo ou acusando o prefeito. Se eles recebem um salário, foi o povo que deu, eles precisam representar o povo um pouco melhor. O vereador precisa ajudar o próximo, fiscalizar, saber como está a saúde, porque que não tem um remédio para dar. Eu falei isso a eles e espero ver alguma atitude por parte deles”, cobra a pioneira. 

Meira Matos se transformou em uma Aparecida bonita, com praças e canteiros acolhedores, e Vitória Campos teve o privilégio de acompanhar cada processo no Município. “Vejo minha cidade bonita, mas também vejo que podíamos estar melhor. Se todos os prefeitos tivessem prestado um serviço digno, voltado para o povo, Aparecida estava bem melhor. Por falta de interesse, o Município perdeu muitas pessoas boas, que vieram para cá e nos ajudaram muito. Exemplo do que eu falo, é o Projeto da Horta que as irmãs criaram e que ajudou muitas famílias. Deixaram acabar o projeto, deixaram destruir tudo que foi construído. Já tivemos a oportunidade de construir uma clínica para atender as mulheres portadoras de Câncer aqui em Aparecida. Mas faltou o interesse. Eu não sou cega, eu olho para trás e vejo as melhorias conquistadas. Mas eu volto a dizer, a gente podia ter mais”, reforça.

Trabalho social

A pioneira relata que já conseguiu mais de 300 benefícios para as famílias de Aparecida, como aposentadoria, auxílio maternidade, Benefício de Prestação Continuada (BPC), entre outros. “A gente ajuda desde o acompanhamento médico à compra da medicação, levar para fazer exames, cirurgia, acompanhamento do paciente internado no hospital meses e meses. A alimentação dessas pessoas internadas, era dada na boca. Eu tinha que trocar a roupa, limpar o quarto. Então, é isso que me fez entrar na política. Amar o próximo sem olhar a quem, você tem que amar o próximo como nós mesmos”, ressalta.

Para Vitória o desconforto de levar as pessoas a Palmas e não ter onde ficar, vai acabar em breve, ela conta que ganhou do filho Diogo um lote na Capital e que já estão construindo uma casa para alojar as pessoas quando forem para Palmas. “Wenina, quando você trata bem as pessoas, você tem o respeito delas. Isso faz você querer o melhor para elas. Eu vou ter um lugar em Palmas para receber e hospedar meus amigos de Aparecida, porque eles confiam em mim, são pessoas muito humildes, para quem eu jamais vou virar as costas. Para mim, isso é um trabalho político e social e eu não sei se um dia eu deixarei de realizar ou de sair da política. Esse dom de ajudar o próximo veio de Deus”, ressalta.

Vitória trabalhou por quatro anos como secretária de Assistência Social, na primeira gestão do prefeito Suzano, e durante esse período pôde realizar ações sendo mais atuante, pois lhe eram dadas as condições para atender as famílias de baixa renda. Entre as ações desenvolvidas nesse período, ela aponta a entrega de leite às famílias carentes, como uma das mais importantes. “Inclusive, pedi para o Suzano, a volta do leite para as pessoas mais necessitadas”, conta.

Ao falar dos ex-gestores de Aparecida e a contribuição que cada um deu para o Município, a pioneira conta que apenas na gestão do ex-prefeito Pedro Luiz ela não foi ajudada. “O Zezinho, Pinheirinho, Carmelita, Manoel Raimundo, Deusimar e Suzano se dedicaram demais ao Município. Zezinho do Louro tem um diferencial: se ele falar que faz, pronto. Ele é homem de palavra mesmo. Então, olhando para trás o meu muito obrigada vai a essas pessoas que moram em meu coração”, ressalta.

Para a pioneira que sonha um dia poder voltar a abraçar o povo, a pandemia causa muitas tristezas ao tirar a vida das pessoas. “Dói tanto quando a notícia chega falando que morreu uma pessoa com essa doença. Tudo ficou muito triste depois da chegada dessa pandemia. Você é impossibilitada de pegar na mão de uma pessoa. Isso não é justo.  Mas a esperança é a última que morre, a gente tem que ter fé e pedir pra Deus, que essa doença seja eliminada”, acredita a pioneira.

Sonhos

Assim como muitos dos moradores, Vitória ainda tem sonhos que se acumulam em sua memória. Para ela, a construção do Centro dos Idosos, um projeto para tirar as crianças das ruas e um centro de tratamento para os alcoólatras é de grande importância em Aparecida do Rio. “É doído você ver um idoso precisando de zelo, você ver uma criança crescendo no envolvimento com drogas e um alcoólatra buscando ajuda e não poder fazer nada. Precisamos abrir os olhos para esse povo que pede socorro a todo momento. Não podemos virar as costas para os mais necessitados. A criação desses projetos sei que são possíveis. Quando você dá a oportunidade de uma pessoa recuperar, você não presencia um velório de um suicida. Você não presencia alguém se enfocar, coisas que estamos vivendo em nosso município. E sei também que o prefeito que fizer isso, vai ficar na história de Aparecida”, afirma.

Assim como os outros pioneiros, Vitória Campos termina sua entrevista com lágrimas nos olhos ao dizer: “sonho um dia ser prefeita de Aparecida, para poder fazer pelo povo, tudo que tenho vontade, para cuidar dos mais necessitados, pois são seres humanos igual a qualquer outra pessoa”, ressalta.

Por aqui concluímos nossa matéria especial com Vitória Campos, uma mulher forte, que traz nas mãos as marcas do trabalho que dedicou ao longo de toda uma vida. A essa mulher deixamos aqui registrado o nosso respeito e a nossa admiração. Obrigada Vitória Campos.

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